Falar sobre “mineiridade” não é uma tarefa simples. O que há em especial ou diferente em ser mineiro? Para responder a esta pergunta, muitas vezes pensamos em elementos e experiências que marcaram nossa história pessoal e coletiva, e que nos aponta aos aspectos da memória, da tradição, do enraizamento, de uma ligação ou pertencimento a um certo grupo. A mineiridade é, então, esse processo de identificações a que estamos sujeitos toda vez que tentamos responder à pergunta do que é ser mineiro, do que faz com nos sintamos unidos por laços que não são muito claros, mas fortes o suficiente para que possamos estabelecer relações marcadas por características que nos são próprias, por uma cultura que criamos e somos por ela criados.
Com a urbanização das áreas de mineração, houve também o desenvolvimento de um grande número de obras, dentre residências, edifícios públicos, pontes, chafarizes, pinturas, esculturas, todas marcadas por um estilo próprio, marcando a fase do período barroco em Minas Gerais. A herança dessas construções são as cidades históricas do estado reconhecidas como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO, espalhadas pelos antigos caminhos da Estrada Real, atualmente totalmente reformulada para o turismo.
Mas a produção cultural do estado não se resume a aspectos materiais e arquitetônicos. A pintura, a literatura, a culinária, além de inúmeras festividades, com músicas e danças, crenças e valores, lendas e mitos, dão a Minas Gerais uma característica muito particular e diversificada, inclusive entre as próprias regiões do estado. Apesar de não haver concordância entre a divisão exata do estado em regiões culturais específicas, muitos estudiosos estabelecem uma divisão que envolve condições climáticas e geográficas, características econômicas, políticas e sociais, além de expressões populares de modo geral. Utilizaremos, como ilustração das áreas culturais do estado, a divisão proposta pelo estudioso Saul Martins, na qual Minas Gerais apresenta 46 micro-regiões e 10 unidades culturais, que seriam:
Vale do Jequitinhonha – (Cidades pólos – Diamantina, Araçuaí)
Essa área destaca-se pela produção e exportação de pedras preciosas e semipreciosas e pela grande expressão de sua pecuária de corte e foi uma das áreas mais ricas do estado, cujos exploradores chegavam ao local pela Estrada Real. Seu artesanato tem fama nacional e apesar dos poucos e incentivos, é bastante promissor, principalmente em relação ao turismo na região. Destacam-se também na região inúmeros grupos de Congado e manifestações locais, como o Batuque de Araçuaí.
Região Norte (Cidade pólo – Montes Claros)
Nessa região destacam-se diversos setores industriais e dois importantes projetos de irrigação na atividade agrícola: Jaíba e Gorotuba. A presença do rio São Francisco atrai o turismo, juntamente com as belezas naturais da região. Em Montes Claros, ocorrem várias manifestações do Congado Mineiro, com destaque para os Catopés e a Marujada. Em Bocaiaúva, são apresentadas as festas dos Reis de Alto Belo, com danças como a Colheita do pequi, o Calango, o Carneiro, o Batuque, além das Pastorinhas e os violeiros.
Região da Zona da Mata (Cidade pólo – Juiz de Fora)
Situada entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, é uma das regiões mais populosas do Estado e possui de um diversificado parque industrial. Destacam-se entre as principais manifestações os grupos de Folias de Reis e as comemorações juninas em homenagem a São João, São Pedro e Santo Antônio.
Região Central e metalúrgica (Cidades pólos – Belo Horizonte – Curvelo)
Grande Sertão – (Cidade pólo – Unaí)
A região Noroeste de Minas, ou Grande Sertão, possui grande potencial para a produção de grãos, em especial a soja e o milho, destacando-se nos agronegócios. Os grandes rodeios e festas da colheita incentivaram o aparecimento de manifestações locais ligadas às festas de padroeiros, com muita viola. Também estão presentes as Folias de reis e as festividades do Congado.
Campo das Vertentes (Cidades pólos – São João Del Rei – Tiradentes)
Essa região se destaca bastante pelo turismo, pelo artesanato barroco e de metais como o estanho, além da beleza da região. As principais manifestações são também referentes aos Santos Reis e às modas de violas.
Sul (Cidades pólos – Varginha – Poços de Caldas)
O Sul de Minas se destaca no turismo, com as diversas estâncias hidroclimáticas, bem como a região do Lago de Furnas e o “turismo esotérico”. Também conta com expressiva produção agrícola, sendo a principal região produtora de café do Brasil. Nesta região, várias Folias de Reis se apresentam no período natalino e algumas guardas de Congado festejam Nossa Senhora do Rosário. Um destaque especial são os Caiapós de Poços de Caldas.
Nordeste (Cidades pólo – Governador Valadares – Nanuque):
Compreende a região localizada entre os vales Mucuri e do Rio Doce. Destaca-se pelo ecoturismo e a prática de esportes radicais. Por ser uma região próxima da Bahia, acabou incorporando elementos culturais desse estado na realização da Micarema, com a presença de foliões em festas carnavalescas fora de época. Também são freqüentes reisados no Natal.
Oeste (Cidades pólos – Bom Despacho, Dores do Indaiá)
O Oeste mineiro tem bastante desenvolvida a pecuária, o que faz com que aconteçam várias atividades ligadas ao gado na região. Apresenta uma das mais belas festas do Rosário do estado, na cidade de Dores do Indaiá, em agosto, com uma grande e diversificada presença de congadeiros, com destaque para as guardas de Congo, Catopés, Caixinhas de Bombacha, Tamboril (tipo de Congo) e Moçambique. Existem também famosas folias de Reis na região em Bom Despacho e o famoso grupo do Catira Pedro e Pedrinho, de Martinho Campos.
Gerais de Minas foi um marco no trabalho do grupo pois através deste espetáculo o Sarandeiros prestava uma homenagem única às tradições culturais existentes na terra das alterosas, revelendo através da dança e da música, a alma do povo mineiro.