Maracatu

Maracatu

Cortejo de negros característico do Estado de Pernambuco, em especial da cidade de Recife. Recentemente observamos sua forte presença no Estado do Ceará. No período colonial, os portugueses, para acalmar os escravos e manter a ordem, incentivavam as chamadas coroações dos reis de congo, festa em que a nobreza escrava, eleita pelos próprios negros, era cultuada com cerimônias nas igrejas em homenagem à padroeira ou a Nossa Senhora do Rosário. Ao final do ato sagrado, os escravos cantavam e dançavam com seus batuques nos adros das igrejas, para festejar os seus reis. Com a abolição da escravatura, essa celebração perdeu a sua razão de existir. Findada a tradição religiosa, as nações de maracatu convergiram para o carnaval, conservando elementos distintos de qualquer outro cortejo.
A palavra maracatu parece ter-se originado de uma senha combinada entre os negros para avisar a chegada de policiais, que vinham reprimir suas brincadeiras. A senha era anunciada pelos toques dos tambores, emitindo um som parecido com maracatu/maracatu/maracatu. Na linguagem popular, tal palavra é empregada para expressar confusão, briga, desordem, o que dá respaldo ao pressuposto de sua origem. Outra possibilidade para o nome estaria relacionada aos maracás, instrumentos musicais utilizados em celebrações do passado.
Existem dois tipos de maracatu, e um deles é o maracatu nação ou baque virado. A música vocal denomina-se toada e inclui versos de procedência africana. O início e o fim são determinados pelo som de um apito. O instrumental, cuja execução se denomina toque, é constituído por gonguê, tarol, caixa de guerra e zabumbas. Trata-se, então, de um desfile ao ritmo dessa toada. A frente, vão lanterneiros, que outrora iluminavam o caminho do cortejo, rei e rainha, príncipes e princesas, dançarinas vestidas de baianas, vassalos e as figuras mais importantes do maracatu: a dama do passo e o estandarte. A dama do passo leva nas mãos a calunga, espécie de fetiche em forma de boneca. Segundo a tradição, nas mãos dançantes dessa personagem o adereço capta os fluidos positivos do universo e os repassa para os integrantes do cortejo. O estandarte é carregado por um porta-estandarte e leva o nome da nação, distinguindo um grupo do outro.
A indumentária, rica em adornos com tecidos brilhantes, espelhos e bijuterias, era doada antigamente pelos senhores de escravos. O excesso de enfeites busca relembrar as riquezas deixadas na África.
O outro tipo é o maracatu rural ou de baque-solto, que tem sua origem na segunda metade do século XIX, na região canavieira da zona da mata pernambucana. O ritmo dos chocalhos e a percussão uníssona e acelerada do surdo, acompanhados da marcação do tarol, do ronco da cuíca, da batida cadenciada do gonguê, do barulho característico dos ganzás e de instrumentos de sopro, dão ao conjunto características musicais próprias e bem diferenciadas dos maracatus tradicionais. Os caboclos de lança, principais personagens dessa variante, vêm à frente, abrindo espaço entre a multidão com suas lanças de madeira, usadas originalmente para afastar os pés de cana-de-açúcar do caminho, e usando uma enorme cabeleira de papel celofane. Trazem como destaque em sua indumentária uma espécie de manto usado pelos canavieiros. Porém, para a dança, essa vestimenta é toda bordada de lantejoulas e paetês. Usam também o surrão, uma bolsa confeccionada em couro de carneiro, onde são presos imensos chocalhos. Os caboclos de lança vêm geralmente da Zona da Mata para brincar o carnaval no Recife. Andam quilômetros a pé, carregando o surrão nas costas. Para suportar o sacrifício da viagem, eles tomam um tipo de bebida tradicionalmente feita à base de limão, cachaça e pólvora, denominada azougue. Por ser muito forte, ela os deixa meio dopados. Costuma-se dizer que essas pessoas usam óculos escuros para esconder os olhos vermelhos, efeito notório da bebida.

Fonte: CÔRTES, Gustavo Pereira. Dança, Brasil!: festas e danças populares. Belo Horizonte: Leitura, 2000.
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